メタボ METABO

 

 

Japão, Buscando Cinturas Esbeltas, Mede Milhões

Por Norimitsu Onishi (Tradução Sensei Roberto Alves) - New York Time- 13/06/2008 - Japão


O Japão não é um país conhecido pelo excesso de peso de seus cidadãos, mas mesmo assim empreendeu uma das mais ambiciosas campanhas nacionais já tentadas para criar uma população mais esbelta.

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Um cartaz em uma clínica de saúde pública do Japão descreve: "Adeus, metabo", uma palavra associada com ser preponderante. O governo japonês está montando uma campanha de perda de peso ambiciosa.


Convocado pelo governo da cidade de Amagasaki, Minoru Nogiri, 45anos, dono de uma floricultura, em certa manhã recente se viu em uma fila para ter sua cintura medida pelas autoridades. Dada a ausência de barriga perceptível, a chance de que os funcionários do governo o classificassem como acima do peso, ou "metabo", o termo que se usa para designar essa situação no Japão hoje em dia, parecia baixa.

Mas porque o novo limite estatal para cinturas masculinas é de 85 centímetros, ele se havia medido ansiosamente, em casa, alguns dias antes. "Estou no limite", ele disse.

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Sob uma lei nacional que entrou em vigor dois meses atrás, as empresas e os governos locais têm que medir as cinturas dos japoneses com idade de entre 40 e 74 anos, como parte de seus exames anuais. Isso representa mais de 56 milhões de cinturas, ou aproximadamente 44% da população do país.

Aqueles que excederem os limites prescritos pelo governo - 85 centímetros para os homens e 90 centímetros para as mulheres, idênticos às normas estabelecidas para o Japão em 2005 pela Federação Internacional do Diabetes como diretriz fácil de identificar riscos de saúde - e que estiverem sofrendo de doenças relacionadas ao excesso de peso receberão orientação de dieta, caso não percam peso em prazo de três meses. Se necessário, essas pessoas serão encaminhadas a novos programas de reeducação depois de seis meses.


Para atingir seu objetivo de reduzir em 10% nos próximos quatro anos e em 25% nos próximos sete anos a população com excesso de peso, o governo atribuirá penalidades financeiras às empresas e governos que não consigam cumprir metas específicas. O Ministério da Saúde do país discuti que a campanha ajudará a manter sob controle a expansão de doenças como o diabetes e derrames.


O ministério também diz que reduzir o excesso de peso ajudará, em uma sociedade que está envelhecendo, a conter os custos em rápida expansão dos serviços de saúde. Esse é um dos mais sérios e mais delicados problemas políticos que as autoridades japonesas enfrentam atualmente. A maioria dos japoneses dispõe de cobertura de saúde pública ou de planos de saúde vinculados aos seus empregos. A fúria quanto a um plano que forçaria as pessoas com mais de 75 anos a pagar pelos serviços de saúde que recebem recentemente causou a apresentação de um movimento de censura ao primeiro-ministro Yasuo Fukuda, a primeira vez que isso acontece no país desde a Segunda Guerra Mundial.

Mas os críticos dizem que as diretrizes governamentais - especialmente quanto às cinturas masculinas - são simplesmente rígidas demais, e que mais da metade dos homens serão classificados como acima do peso. O efeito, dizem, será encorajar o uso excessivo de medicamentos e, no final das contas, elevar os custos de saúde no país.

Yoichi Oguchi, professor da Escola de Medicina da Universidade Tokai, perto de Tôkyô, e especialista em saúde pública disse que "não havia qualquer necessidade" que os japoneses percam peso.

"Eu não acredito que a campanha terá qualquer efeito positivo. Agora se algo assim fosse adotado nos Estados Unidos, haveria benefícios reais, porque há muitos norte-americanos que pesam mais de 100 quilos", afirmou o Sr. Ogushi. "Mas os japoneses são tão esbeltos que eles não podem dispor de perder peso".

O Sr. Ogushi na verdade foi um pouco mais rigoroso com os norte-americanos do que estes merecem. Uma pesquisa do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde dos Estados Unidos constatou que a cintura média entre os norte-americanos brancos era de 99 centímetros, 2,5 centímetros abaixo da norma estabelecida pela Federação Internacional do Diabetes. As mulheres norte-americanas não se saíram tão bem, com uma cintura média de 92,7 centímetros cerca de cinco centímetros acima da norma de 88 centímetros. A diferença entre os padrões reflete as variações de altura e de tipo de corpo dos homens e mulheres japoneses.

Os números comparáveis para os japoneses são delineadas, desde que as cinturas não estiveram oficialmente medidas no passado. Mas pesquisas privadas em milhares de japonês indicam que a média da cintura masculina está abaixo do limite do novo governo.

Este fato, amplamente informado nas mídias, levantou a ansiedade nas clínicas de saúde da nação.

Em Amagasaki, uma cidade no oeste do país, os funcionários estão trabalhando agressivamente para medir as cinturas da população, em uma campanha descrita como "check-up especial". A cidade precisou medir as cinturas de pelo menos 65% de seus moradores com idade entre os 40 e os 74 anos que sejam beneficiários de planos públicos de saúde, um objetivo "extremamente difícil", reconheceu Midori Noguchi, um funcionário da cidade.

Quando chegou a sua vez, Sr. Nogiri, dono de uma floricultura, entrou em uma cabine onde descobriu seu abdômen liso com pouco traço de gordura. Uma enfermeira envolveu o corpo dele com uma fita métrica, na altura do umbigo, medido: 85,2 centímetros, 0.25 cm acima do limite.

"Saí mal", disse Nogiri, com uma expressão derrotada no rosto.

A campanha foi iniciada dois anos atrás, quando o Ministério da Saúde começou a bater os tambores quanto ao combate a uma condição médica de que poucos japoneses tinham ouvido falar - síndrome metabólica - um conjunto de fatores que ajudam a elevar o risco de desenvolvimento de doenças vasculares e diabetes. Essas incluem a obesidade abdominal, a pressão sanguínea elevada, e níveis elevados de glicose e colesterol. Não demorou muito para que a condição, e seu nome assustador, se tornassem uma espécie de codinome nacional para sobrepeso.

O prefeito de uma cidade em Mie, um governo regional próximo de Amagasaki, se envolveu a tal ponto na campanha “Anti-metabo" que ele e seis outros funcionários do governo formaram um grupo de perda de peso conhecido como "os sete samurais da metabo". A campanha foi encerrada abruptamente quando um dos membros, um homem de 47 anos que tinha cintura de 99 centímetros, morreu de ataque cardíaco durante uma corrida.

Ainda assim, em um ginásio municipal em Amagasaki, dezenas de residentes - poucos dos quais pareciam sofrer de excesso de peso - dançavam ao som da canção da cidade contra a metabo, que advertiu contra o risco de que os botões das calças estourem e saiam voando. “pyun-pyun-pyun!”

"Adeus, metabólica! Vamos fazer juntos os nossos exames! Vamos, vamos, vamos!

Adeus metabólica, não espere até adoecer. Não, não, não!"

A palavra metabo tornou mais fácil para os provedores de planos de saúde convencer seus pacientes a perder peso, disse o Dr. Yoshikuni Sakamoto, um médico que trabalha para o sindicato dos funcionários da Matsushita, a empresa que fabrica os produtos da marca Panasonic.

"Antes tínhamos de tratar desse tema usando a palavra obesidade, que definitivamente tinha uma imagem desfavorável", disse Dr. Sakamoto. "Mas metabo parece muito mais abrangente".

Antes mesmo que Tôkyô promulgasse suas diretivas, a Matsushita estava concentrada no peso de seus funcionários durante os exames médicos anuais. No último verão, Akio Inoue, 30 anos, um engenheiro de 1,70 metro que pesa 108 quilos, foi avisado por um médico da empresa que teria de perder peso ou começar a se medicar contra a alta pressão sanguínea.

Depois de uma dieta, ele reduziu seu peso a 82 quilos, mas sua cintura continua mais de dois centímetros acima do limite do estado aprovado.

Com a nova lei a Matsushita terá de medir as cinturas não só de seus funcionários, mas também das famílias e dos trabalhadores aposentados. Como parte de seus esforços intensificados, a empresa começou a fornecer aos seus funcionários toalhas de "verificação de metabo" que servem também como fitas métricas.

"Ninguém quer ser apontado como metabo", disse Kimiko Shigeno, uma enfermeira da empresa, sobre a campanha. "Terá o mesmo efeito que as campanhas de combate ao fumo, que levaram os fumantes a ser vistos de maneira negativa".

Companhias como Matsushita terão que medir as cinturas de pelo menos 80% dos seus funcionários. Além disso, eles terão que apanhar 10% desses julgados metabólico para perder peso antes de 2012, e 25% perder peso antes de 2015.

NEC, o maior fabricante do Japão de computadores pessoais, disse que se não conhecesse seus objetivos, poderia incorrer até $19 milhões em penalidades. A companhia decidiu abafar metabo do início começando a medir as cinturas de todos seus empregados acima de 30 anos de idade e patrocinando dias de educação metabo para as famílias dos funcionários '.

Alguns especialistas afirmam que as normas do governo para todo tipo de indicador, de cinturas a pressão sanguínea, são severas a ponto de tornar impossível que sejam cumpridas ou superadas. Eles afirmam que o objetivo real do governo é transferir custos de saúde ao setor privado.

O Dr. Minoru Yamakado, um funcionário da Ningen Dock, uma associação de médicos que ministram exames clínicos, disse que endossava a campanha do governo e seu foco na medicina preventiva.

Mas ele disse que a prioridade real do governo deveria ser reduzir o número de fumantes, que continua a ser mais alto no Japão do que em qualquer dos demais países avançados, em larga medida devido ao forte grupo de interesse do tabaco no país.

"O fumo é também uma das causas da síndrome metabólica", disse Yamakado. "Assim, se você se preocupa com a metabo, impedir que as pessoas fumem deveria ser sua maior prioridade".

A despeito das dúvidas, porém, as autoridades japonesas estão seguindo em frente.

Kizashi Ohama, um funcionário da prefeitura de Matsuyama, que também agiu agressivamente contra a metabo, disse que ele deixaria o debate quanto aos méritos da campanha aos especialistas e aos funcionários da Saúde, em Tôkyô.

Na clínica de saúde pública de Matsuyama, Kinchiro Ichikawa, 62, disse que o limite de 85 centímetros para cinturas masculinas que o governo deseja impor é "severo". Ele tem 1,63 metros, pesa apenas 61 quilos e não conhece ninguém com excesso de peso.

"O Japão não deveria se incomodar com isso", disse ele, antes de ter sua cintura medida.

Mas em uma faixa comercial da cidade, Kenzo Nagata, 73 anos, proprietário de uma loja de brinquedos, disse que ignorou a carta que o convocava para o exame médico especial. Sua cintura não é problema de ninguém a não ser ele mesmo, ainda que tenha dito que, com 83 centímetros, ele se sente confortável quanto ao limite. Ele afirmou que também vai ignorar a segunda convocação que a cidade pretende fazer aos recalcitrantes.

"Não vou", ele disse. "Não creio que isso seja problema meu".